Lembramos nestes dias um acontecimento que, embora trágico, se reveste da glória de Cristo Ressuscitado: o heróico testemunho da jovem Aída Jacob Curi, morta aos 18 anos defendendo sua castidade de um grupo de jovens. Torturada até a exaustão, mostrou-se mais forte que todos eles - permaneceu virgem e pura - e recebeu a coroa do martírio, como podemos justamente pensar.
A Igreja ainda não examinou oficialmente sua possível causa de canonização, e nem sabemos se isso poderá acontecer um dia, mas é o que sinceramente auguramos. Peçamos a Deus essa grande graça para a Igreja universal, e de modo especial, a Igreja do Brasil!
Conheçamos um pouco de sua biografia e como foi sua morte por Cristo!
Aída Curi
15/dezembro/1939 - 14/julho/1958
Aída Jacob Curi nasceu a 15 de dezembro de 1939, em Belo Horizonte, MG, terceira dos cinco filhos do casal Gattás Assad Curi e Jamila Jacob Curi. Os pais, originários de Saydnaya, Síria, pertenciam à Igreja Melquita Católica.Com cinco anos incompletos, perde o devotado pai, que na agonia dizia ser sua maior mágoa separar-se dos filhos. Sua mãe Jamila passou a trabalhar; com exceção do mais velho, todos tinham menos de 10 anos. Preocupava-se com a educação sobretudo da única filha, Aída, considerada a boneca da casa, menina de bons sentimentos, olhar tranqüilo, carinhosa e dócil. Dona Jamila foi com os filhos para a Escola Moreira, no Distrito Federal, então ainda na cidade do Rio de Janeiro, e lá permaneceu 8 anos. As diretoras do colégio, Alice e Flora dos Santos Moreira, bondosas e de acentuado espírito religioso, encaminharam três filhos para o seminário dos padres salvatorianos em Jundiaí, SP, e Aída, com seis anos, teve que separar-se dos irmãos para poder ir estudar no Educandário Gonçalves de Araújo, para meninas órfãs, em São Cristóvão, na mesma cidade. Lá as bondosas Irmãs Filhas de São José conduziriam a educação de nossa jovem por 12 anos seguidos.
Aída ambientou-se logo à vida no colégio interno. Sua mãe a visitava todos os primeiros domingos do mês e recebia das irmãs contínuos elogios sobre sua filha, considerada um exemplo para as colegas. Aos seis anos fez sua primeira comunhão, e crescia na prática das virtudes cristãs de forma consciente e autêntica. Querida pelas companheiras, inteligente e excelente aluna, dócil e obediente, era também sempre pronta a ajudar a todos. Sabia o valor do sacrifício e da renúncia. Aos 16 anos, em um retiro espiritual pregado por sua Eminência, o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, de 29 a 31 de maio de 1956, teve a alegria de conseguir que ele fosse dali em diante seu confessor espiritual. Entre as várias anotações que escreveu nesses dias de retiro encontramos as seguintes palavras: “Estou muito contente porque Jesus está no meu coração e minha alma está pura. Maria, ajudai-me a amar sempre a Jesus e ANTES MORRER DO QUE PECAR. Dia 31-5-56”. Suas anotações espirituais bem revelam sua delicadeza de consciência e suas virtudes. Era a única menina do educandário que comungava todos os dias.
Grande era sua devoção a Nossa Senhora, e nos últimos seis anos de colégio pertenceu à Pia União das Filhas de Maria. Fazia parte também do Apostolado da Oração e da Cruzada. Dizia: “Por enquanto não senti o chamado de Deus, mas se algum dia Deus me chamar para Seu serviço, estarei pronta a ingressar na vida religiosa”.
Todas as irmãs do educandário confirmam que Aída foi a melhor aluna que por ali passou durante um quarto de século. Além das melhores notas, tornou-se verdadeira auxiliar das mestras, sobretudo na disciplina. Quando d. Jamila quis tirá-la do Educandário para que pudesse fazer o Curso Ginasial reconhecido pelo governo, as Irmãs pediram instantemente que a deixasse ficar, pois que servia de exemplo para as outras meninas.
Após doze anos de esmerada formação, saiu do colégio para começar nova vida. Continuou confessando-se de tempos em tempos, a receber a comunhão todos os domingos e recitar o terço e outras orações em casa. Fazia cursos de datilografia, inglês e português, e nas horas que lhe sobravam dos estudos trabalhava na loja do irmão. Estava sempre com algum livro na mão. Seu maior desejo era conseguir um bom emprego e ajudar a mãe.
“Em conversas com o irmão demonstrou muitas vezes viva admiração pelo ato de heroísmo da italianinha (Santa) Maria Goretti, que preferiu morrer apunhalada a perder a virgindade. Quando quis dar aos dois irmãos seminaristas uma lembrança, a escolha recaiu sobre dois belos quadros de Maria Goretti. Foi a santa que mais admirou. Algumas vezes quando conversavam sobre o heroísmo da mártir italiana, seu irmão seminarista lhe perguntava a brincar:
- ‘Se acontecesse caso semelhante contigo, terias a coragem de fazer o mesmo?’
Então Aída ficava pensativa, cismadora e respondia:
- ‘Mas não vai acontecer isso comigo, não’.
- ‘No entanto – diz seu irmão – tinha eu a mais absoluta certeza de que preferiria a morte a manchar sua honra’.
A mãe, sempre zelosa pelo futuro da filha, chamava-lhe a atenção para certos moços que se aproximam de moças com segundas intenções. E advertia maternalmente:
- ‘Cuidado minha filha. Não confie em ninguém. Aqui no mundo devemos desconfiar de tudo e de todos. Não queira imitar as tais mocinhas que se dizem ‘modernas’.
Foi numa dessas ocasiões, aliás na última palestra que tivera com a mãe a esse respeito, dois ou três dias antes da morte, que Aída lhe prometera algo de heróico:
Sua virtude não se alterou, e conta sua amiga e confidente Elenira Pereira dos Santos, que havendo estado anos seguidos com Aída no mesmo Educandário, encontrava-se com Aída quase diariamente na loja do irmão até as vésperas do crime: “Um dia deu-me até uma oração para eu recitar todos os dias, a fim de manter a pureza de alma. Meu pai, que também a conhecia, dizia-me: - Elenira, porque você não é como Aída?”
Eram passados apenas sete meses de sua saída do Educandário. Estudava datilografia três vezes por semana, das 18h às 19h, em Copacabana; chegava em casa por volta das 20h. Naquele 14 de julho de 1958, porém, Aída tomou outro caminho: seguiu o Cordeiro sem Mancha, recebendo a palma do martírio!
Saiu do curso de datilografia com uma colega naquele dia. Foram abordadas por alguns rapazes da Rua Miguel Lemos. A um certo momento, afastou-se a colega e Aída ficou sozinha tentando recuperar objetos dela arrebatados pelos jovens. Haviam eles usado o estratagema de lhe tomar os óculos e a bolsa (onde estava o dinheiro da condução) para obrigá-la a ir em busca de seus pertences. Quem sabe quantas vezes fizeram algo parecido, pois já havia sido proibido ao porteiro do edifício aonde a levaram entregar as chaves a esses rapazes. Não foi um encontro casual, mas uma violência sexual planejada ("curra") pois do contrário não se explicam todas as condições favoráveis encontradas na sua execução e arroladas no processo criminal. Mais tarde seu corpo caía do terraço no 13o. andar do Edifício Rio-Nobre, em plena Av. Atlântica, de uma altura de 42 m .
O médico legista Mário Martins Rodrigues, do Instituto Médico Legal, autor da autópsia e outros exames, foi categórico: Aída morreu virgem. As vestes, por sua vez, foram cuidadosamente examinadas nos laboratórios do Instituto de Criminalística do Departamento Federal de Segurança Pública. Procurando reconstituir a cena do crime, os peritos constataram que por 30 minutos ela foi submetida a cruéis sofrimentos, violências e espancamentos. Três pessoas participaram do crime. Um deles usava um anel, que deixou marcas no seu rosto. O lenço branco bordado, encontrado na bolsa de Aída e muito manchado de sangue, foi usado pela jovem no momento da luta. Concluíram que ela limpou o sangue que lhe escorria da boca. O atentado violento ao pudor ficou provado pelo exame minucioso das vestes e de ferimentos do corpo. Dentro de sua bolsa foram encontrados os óculos completamente despedaçados. Na parede externa do parapeito do terraço os peritos constataram marcas deixadas pelas sandálias de Aída, que rasparam quando o corpo caiu, provando que ela não se atirou. O corpo caiu rente ao edifício.
Os advogados dos acusados tentaram difamar Aída, visando conseguir a absolvição dos criminosos. Procuravam argumentar que era leviana, que subira porque quis, sabendo o que encontraria, e, ao final dos acontecimentos, ela mesma teria se jogado do terraço.
Segundo testemunhas, Aída foi puxada para dentro do elevador e aos gritos chegou ao alto do prédio. Conforme notícias de um jornal da época, foi num apartamento do décimo segundo andar, ainda em fase de acabamento, que se deu a luta dos agressores para a imobilização de Aída. Caindo ela desmaiada ou morta em conseqüência da exaustão física, foi seu corpo jogado do terraço, visando simular o suicídio da vítima. Poucas foram as palavras proferidas por Aída no momento de sua resistência heróica, segundo o que nos referem os réus em seus depoimentos durante o processo criminal: "Deixem-me ir embora" e "Eu sou virgem".
O julgamento dos acusados causou revolta e frustração na sociedade. O principal acusado foi submetido a três julgamentos, até ter sua pena definitiva fixada em oito anos de prisão. Outro acusado foi condenado a um ano e três meses de prisão. Quanto ao porteiro ficou foragido até que se desse a prescrição do crime, isto é, 20 anos. O quarto implicado, menor de idade e enteado do síndico do prédio, foi encaminhado ao Serviço de Assistência ao Menor.
A mãe de Aída deixou carta escrita de próprio punho, três anos antes de morrer, perdoando a todos os culpados, em nome de todos os seus filhos.
O Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, diretor spiritual de Aída, manifestou publicamente a convicção pessoal sobre a sua inocência. Em um depoimento similar ao de Pe. Sérgio de Sampaio e Silva, pároco da jovem, também Dom Hélder Câmara , na época Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, deu seu parecer à Imprensa , respondendo à pergunta de um jornalista :
“É certo ou errado, absurdo ou cabível aproximar o nome de Aída Curi, de Maria Goretti? (...) A estudante brasileira "não vacilou em perder a vida (ou em linguagem cristã ganha-la!) para salvar sua virtude”.
Todas as pessoas que a conheceram de perto, mormente suas amigas e professoras, são unânimes em afirmar sua retidão, e em declarar que Aída morreu mártir, fiel ao Senhor. Felizes coincidências entremearam sua breve existência: nasceu na oitava da Festa da Imaculada Conceição e morreu na oitava da festa de Santa Maria Goretti! No dia 16 de julho, tão logo o corpo foi entregue à família, seu caixão foi carregado pelas suas antigas colegas do educandário para o sepultamento, vestida de branco, e com a fita azul das Filhas de Maria: era o dia de Nossa Senhora do Carmo.
[O presente resumo biográfico foi elaborado a partir do livro Aída Curi, a jovem heroína de Copacabana (1960); a seguir, foi revisto e ampliado pelo próprio autor do livro, Mons. Maurício Curi, sacerdote e irmão de Aída; para tanto Mons. Maurício se serviu da 4a. edição: Aída Curi - O preço foi a própria vida (1978)].
Bibliografia sobre Aída Curi:
Mons. Maurício Curi. Aída Curi, a jovem heroína de Copacabana . São Paulo: Ed. Paulinas, 1960, 127 p. (Obs.: o nome do autor não é mencionado no livro)
Mons. Maurício Curi . Aída Curi - O preço foi a própria vida. São Paulo: Ed. Ave Maria, 4a. ed., 1978.
Site http://www.egliseimmaculee.com/casoaidacuri.htm ("Caso Aída Curi", escrito por Mons. Maurício Curi)
Para maiores informações (Pe. Maurício, irmão de Aída):
Archimandrite Maurice Khoury
42 Rue Omar Ebn Khattab-Midan
Heliopolis - Le Caire - EGITO
Tel.: (00202) 415-2245
egliseimmaculee@yahoo.com (Pe. Maurício)
( Mons. Maurício Curi. Aída Curi, a jovem heroína de Copacabana, p. 51-52)
Mons. Maurício Curi . Aída Curi - O preço foi a própria vida, p. 14-22.
Mons. Maurício Curi . Aída Curi - O preço foi a própria vida. p. 108-109
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